Que relação há entre a gastroenterologia e a nutrologia? O velho ditado “somos o que comemos” é realmente válido? Qual a importância destas duas especialidades quando se fala em hábitos saudáveis de vida?
A Gastroenterologia é a especialidade médica que estuda o funcionamento e as doenças do sistema digestivo. Esôfago, estômago, fígado, vesícula biliar, pâncreas e os intestinos são órgãos que compõem este sistema. Este é o sistema que está em relação direta com o meio externo, ou seja, o primeiro grupo de órgãos a entrar em contato com os alimentos ingeridos é o digestivo.
O sistema digestivo, por sua vez, tem íntima relação com outros órgãos e sistemas. Um exemplo clássico dessa relação é a com o sistema de defesa ou imunológico. Quando se tem a ingestão excessiva de alimentos não saudáveis, como carboidratos simples ou mesmo alimentos excessivamente gordurosos, tende-se a se constatar um enfraquecimento do sistema de defesa e um aumento de infecções, principalmente as respiratórias.
Doenças tipo gastrites, úlceras, má digestão, constipação intestinal (prisão de ventre) são tratadas pelo gastroenterologista. Outras menos comuns, mas igualmente importantes, são também abordadas por esta especialidade, como as hepatites virais, doenças inflamatórias do intestino e as intolerâncias alimentares (doença celíaca).
O tratamento destas doenças se vale de medicamentos, tais como antiácidos e digestivos (procinéticos), dentre outros. No entanto, a abordagem de qualquer doença digestiva só é totalmente eficaz caso haja uma correta orientação alimentar, com um alerta para correção de maus hábitos e vícios de dieta.
A Nutrologia é uma outra especialidade médica que estuda a interação dos nutrientes com o nosso corpo, ou seja, os benefícios e malefícios que cada alimento traz para cada organismo. Um nutrólogo identifica e trata doenças nutricionais, tais como obesidade ou desnutrição, diabetes mellitus e intolerâncias alimentares.
A nível hospitalar, o nutrólogo participa da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN), cuja atuação visa sobretudo o diagnóstico de desnutrição ou risco de desnutrição em pacientes com doenças graves que tem alguma impossibilidade ou dificuldade em se alimentar. É ele quem calcula e prescreve formulações de dieta enteral (dieta por sonda) e parenteral (dieta pela veia), mediante avaliação clínica individualizada.
Interações da nutrologia com outras especialidades são muito comuns, exemplos mais marcantes são com a endocrinologia, nutrição, oncologia e cirurgia.
Em relação à interface entre a gastroenterologia e a nutrologia, um exemplo prático muito comum é o de pacientes que se utilizam cronicamente de determinadas medicações, principalmente os antiácidos. Em muitos casos, estes pacientes não conseguem cessar o uso devido ao retorno ou mesmo piora dos sintomas ao se suspender o medicamento em questão. A reeducação alimentar é primordial nestes casos, tendo-se como objetivo principal orientar a suspensão de alimentos desencadeadores de sintomas, como sal em excesso, alimentos industrializados e excessivamente processados, além do controle de peso.
A recomendação de atividade física regular também faz parte de todas estas orientações. Sedentarismo também é causa de doenças do sistema digestivo.
O conhecido ditado “somos o que comemos” é uma verdadeira máxima desta interação de especialidades e reflete o cuidado que devemos ter com a nossa alimentação cotidiana. Conhecer o que ingerimos, desde a sua produção até as suas características nutricionais, é uma atitude indispensável a quem deseja hábitos saudáveis de vida.